sexta-feira, 2 de julho de 2010

Os sete pecados da copa

A Copa do Mundo, em versão midiatizada, é negócio, espetáculo, marketing global que atinge as vastas legiões de cidadãos-torcedores-espectadores. A copa mexe com afetos, sentimentos e valores, desperta os pecados e as virtudes capitais. A simbologia dos sete pecados capitais, desde a Idade Média, exerce influência sobre os espíritos. E a nossa Idade Mídia, graças a Deus, é subversiva: reúne tribos de crentes, profanos, fanáticos e ateus. Mas não escapa do julgamento público, que distingue religiosamente os virtuosos e viciados. As imagens hilárias da luxúria estão nos sites pornôs, com fotos & fakes dos jogadores e marias chuteiras; e a parte bizarra do pecado está no seu contrário, na imposição do técnico à temperançaforçada dos jogadores do Brasil, privados de sexo e sorvete nas concentrações. No jargão dos torcedores a gula é sinal de jogador fominha: não divide a bola com ninguém. Mas não há comedimento na fome de imagens da TV. A mídia encarna a metáfora da iconofagia (devoração de imagens). Cria os mitos, mas engole os velhos ídolos do esporte. A imagem da avareza fica registrada na vontade de exclusividade da Rede Globo, na cobertura da Copa. É sinal de egoísmo querer monopolizar o poder de ver e de mostrar; eliminar concorrentes, e reinar sozinha. Então, fica valendo o slogan na internet: #Dia sem Globo! A preguiça era pecado e se tornou doença grave na época do capitalismo, baseado na ética do trabalho, no mérito pelo esforço pessoal. A apatia e a indolência, a moleza não tem lugar no mundo dos esportes. Mas o difícil é voltar ao trabalho depois do jogo. Para as novas gerações do sec 21, estar "irado" tem valor positivo. Porém as imagens da ira, na Copa 2010, vão ficar com o treinador Dunga, famoso como zangado. E a subversão do mau humor explode, em escala global, na "irada" e formidável campanha #Cala a boca, Galvão”. A inveja é cruel: corrói as entranhas do invejoso: quem não aceita a derrota está condenado a passar mal; felizes são os times com o dom do desprendimento, e o oposto disso é a campanha solidária às vítimas das enchentes no Nordeste, inserida no noticiário da Copa. A extrema vaidade, a soberba, é um sentimento menor, que expõe a fraqueza dos atletas deslumbrados, como seres lendários, que se afogam em suas próprias imagens midiatizadas e perdem a chance de fazer o gol. Gloriosamente, a humildade e simplicidade dos novos talentos impõem brilho e veracidade ao esporte, durante a Copa do Mundo 2010.

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