domingo, 21 de março de 2010

Fecund@RTE: Pulsações Eletrônicas em Rede

A arte, por definição, não morre. Transforma-se, metamorfoseia-se. Era assim na cena muda no interior, no campo, na fazenda: a natureza transformada em quadros pictóricos, animando o cotidiano dos pobres, dos nobres (de espírito). A rotina da cidade foi ganhando vida com o rádio: a arte musical, através das ondas acústicas, veio para os ouvido sonharem um sonho de felicidade. Com a explosão demográfica, o espírito das cidades também de transformou. Com a TV, os amores e dores do mundo ganharam novas formas de expressão: os sons, as cores, as imagens em movimento vieram para reencantar as almas atômicas, experimentando as ilusões da modernidade. Hoje, na era da tela total, da “vida em ritmo de rock pauleira”, a internet, os sites de vídeo (como o Youtube.com), encararam as portas para a divulgação das obras de arte. As imagens e sons minimalistas das mídias digitais respondem às expectativas do espirito eletrônico do século XXI, dissipando agonia e propiciando o êxtase, numa era de violência extrema.
Pequenas pepitas de ouro na lata de lixo da mídia global. Para além do stress do telejornal, da melancolia das telenovelas e do mundo cão dos programas grotescos, transcendemos a rotina pesada do dia-a-dia usando essas maquinas maravilhosas que, poeticamente, podem nos fazer pessoas melhores.
Partilho aqui com vocês o meu “Top Four”: quatro exemplos de video@rte no YouTube:
- O primeiro mostra fotograficamente reminiscências do quotidiano da família russa do czar, os Romanov, antes de serem assassinados pelos bolcheviques, tudo isso embalado pela música Too beautiful to last (belo demais para se cabar): http://www.youtube.com/watch?v=HaQd93XO-pg.
- O segundo é uma narrativa telemática excepcional: video de animação, insólito assinado por China Tracy, feito a partir da filmagem de um diálogo, no site Second Life, entre dois internautas, um senhor e uma mocinha, em distintas partes do mundo, que bailam e dialogam sobre o amor, a solidão e a beleza do mundo, ao som de um lindo solo de piano: http://www.youtube.com/watch?v=jD8yZhMWkw0
- O terceiro chama-se Many Happy Returns, da finlandesa Marjut Rimminem, um video profundamente insólito, ironia poética que nos remete à memória despedaçada da infância: uma criança deficiente visual relembra quando o trauma é mais psicológico do que físico, com trilha sonora do monumental Erik Satie: http://www.youtube.com/watch?v=vOhf3OvRXKg
- O quarto consiste numa obr@ incrível, da artista Kseniya Simonova, desenhando na areia, com a ponta dos dedos, sobre vidro umedecido, com projeção num gigantesco telão: brevíssima história sensível da Rússia, ao som de música folk num violino, que ganhou o prêmio no programa de tv America's Got Talent (versão ucraniana): http://www.youtube.com/watch?v=vOhf3OvRXKg
Tudo isso para passar o tempo, num dia de domingo nublado, no fim de março.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Seu nome: internet, codinome: solidão

Na ambiência anárquica do ciberespaço a nova febre mundial é o chatroullete.com . Como a palavra mesmo diz, literalmente é um site de relacionamento (com audio e vídeo) tipo roleta: você não precisa clicar: as imagens, caras e bocas do mundo entram e saem da telinha do seu monitor. Fazendo analogia com a televisão, é como se a MTV (aquela que zapeia sozinha) tivesse se instalado na internet. Síndrome da incomunicabilidade total: ninguém fala com ninguém. As pessoas aparecem e desaparecem num piscar de olhos: parece coisa daquelas viagens turísticas: conheça 45 cidades em 24 horas: quando você olha através da janela do bus, a cidade já desapareceu. Signo do voyeurismo radical: a ilusão de se apossar de um outro alguém através de uma mirada obscena. Aliás, diz um estudo: a percentagem demográfica no site: 20 % garotas, 70% rapazes, 10% “tarados”. Seu nome: internet, sobrenome: solidão. Dromologia, dromoscopia: aceleração e velocidade é a lei na era globalizada. Um êxatase para os curiosos e tecnolatras; um terror para os moralistas de plantão. “Mas eu não lhe prometi um mar de rosas”. Tudo aquilo que começou com o MIRC (um dos primeiros sites “inocentes” de bate-papo), passando pelo MSN (conversações on line, em tempo real), chegou aos extremos com o Chatroullete (a “roleta dos gatos”, sic). E, como de hábito... o resultado vai depender da maneira como voce vai usar. Pode se divertir, espantar o tédio, dar boas gargalhadas e – de repente – até fazer “amigos”, surfando virtualmente pelo mundo afora. Artes do pós-humano: pequenos luxos e misérias da alma atômica, e no fim das contas, um laboratório formidável para se entender um mundo em que o espaço da discreção, da intimidade, da privacidade tornou-se indiscreção total, exposição plena, publicidade geral. No tempo das tribos, na idade mídia, quando o mundo lá fora se tornou excessivamente perigoso, a horda se interiorizou, mas sem nada do lado de dentro, a fome do outro arremessa os humanos para o outro lado do vidro: tudo isso – para o melhor e para o pior – faz parte das mitologias e extravagâncias da nossa modernidade líquida.