quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Arte-Kitsch-Net


Arte-Kitsch-Net

As imagens fotográficas, desde a infância da sociedade industrial, têm desempenhado um papel importante na organização da vida mental e afetiva de milhões de pessoas. Elas sempre tiveram o papel de eternizar, simbolizando a ausência dos mortos e de tudo aquilo que não existe mais. Isso já foi estudado por Walter Benjamin (Pequena história da fotografia), Vilem Flusser (Filosofia da Caixa Preta) e Regis Debray (Vida e Morte da Imagem), textos básicos para se entender o poder simbólico das imagens fotográficas, sonorizadas, em animação e 3D. Desde ontem, a alegria da modernidade emanava das fotos solenes adornando os álbuns de família, fotos mitológicas dos cartazes de cinema, capas de revistas, rótulos dos objetos de consumo e calendários fixados nas paredes. Mas existe – evidentemente – uma gradação, no que se refere à qualidade do trabalho fotográfico, como produtos de consumo na cultura de massa, conforme aponta Umberto Eco, nos estudos do Kitsch (como arte de banheiro / "l'art du bonheur" / “arte da felicidade”). Os velhos biscuis, os antigos pinguins como os atuais broches magnéticos pregados na geladeira fazem parte das modestas manifestações estéticas cotidianas, para além do gosto dos apocalípticos e integrados. Entre nós fico pensando nos trabalhos de Gustavo Moura, Ricardo Peixoto, João Lobo e Lilia Tandaya, além de vários outros artistas-profissionais sensíveis concedendo luzes poéticas na ambiência estética da Paraíba. Atualmente, quase todos os dias, recebemos, através dos correios eletrônicos, as mensagens fotográficas musicadas, os pps, “pacotes por segundo”, que podem causar um breve deleite ou muita irritação. Podem animar o cotidiano da vida digital ou provocar danos irreparáveis no computador, quando acompanhadas de vírus informático. Positivamente, aprecio os pps como mensagens de motivação e auto-estima; mas podem também ser vetores de significação piegas, cafona, melodramática. Fico pensando no que diriam a respeito os professores-especialistas em fotografia Saint-Clair, Bertrand Lira, Derval Golzio sobre essa nova “arte-imaginal”, que tem causado controvérsias no debate público. Numa palavra, eu diria que os pps são espécies de viralidades inteligentes que, dependendo da educação estética e das estratégias poéticas dos remetentes, assim como, da paciência e curiosidade dos e-leitores-cidadãos-internautas, podem animar o cotidiano da nossa comunicação numérica. Como as expressões minimalistas dos vídeos postados no YouTube e da “Morphing Arte” (arte da metamorfose), em que assistimos à desmontagem e remontagem digitais das celebridades e figurinhas carimbadas na sociedade do espetáculo. E o mais interessante é que voce pode fazer tudo isso em casa (sem sair do conforto doméstico), basta baixar um simples programa no seu velho amigo-computador e exercer a sua “Coragem de Criar”. Fiat Lux!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Reconhecimento dos Pares, Afetividade & Inteligência Coletiva


  1. O reconhecimento dos pares consiste numa experiência que reconforta e revigora. Pode massagear o ego, mas essa - decididamente - não é a mais nobre das sensações que pode despertar. Os elogios espontâneos e desinteressados, como os feitos aqui, ao meu trabalho, pelo amigo gaúcho, desde os tempos da Sorbone (1990-1995), Juremir Machado, fazem bem à auto-estima e nos instigam à coragem de criar. Entretando, a dimensão mais valiosa do reconhecimento público é o seu poder de nos fazer manter acesa a tocha de fogo iluminando a parte escura da nossa caverna. É uma experiência que emana bons presságios e por isso mesmo, deve ser compartilhada numa rede social, que, simultaneamente, catalisa os afetos e as informações, irradiando vigorosas modalidades de Empoderamento social e Inteligência Coletiva.

Prefácio ao livro Sob o Signo de Hermes: Mediações no Ciberespaço.

Cláudio Paiva é um intelectual. Um verdadeiro intelectual. Não são muitos em atividade. Tem a libido do saber. Pensa com o corpo inteiro. Sente aquilo que investiga. Consegue mesclar o erudito e o popular com uma desenvoltura invejável. Domina o universo do cinema como poucos. Vai de um ponto a outro do imaginário contemporâneo com leveza e conhecimento. Esta sua incursão no mundo virtual não poderia ser diferente. Traz a marca de quem reflete sem preconceitos e sem amarras. Examina, avalia, interpreta e compreende. Acessa um número incrível de fontes e nunca se limita a navegações de cabotagem.

Aposta na renovação. Cláudio Paiva não quer apenas repetir as rotas tradicionais. Tem a ousadia dos aventureiros. Está longe de se deixar dominar pela camisa-de-força dos discursos acadêmicos positivistas. Produzir conhecimento para ele é gerar novidade, abrir novos caminhos, sair dos trilhos e indicar novas pistas. Parece fácil. Não é. Poucos têm essa predisposição para o confronto. Poucos sentem o aroma da inovação. Pesquisar é muito mais do que levantar dados. Exige uma curiosidade profunda e uma determinação especial. A determinação para abalar fundamentos, descobrir, “desencobrir”, fazer emergir o novo, revelar, desvelar e até mesmo “desconstruir”.

Todas essas qualidades caracterizam o perfil do pesquisador Cláudio Paiva. Conheço-o desde o tempo em que fazíamos doutorado em Paris e ele via todos os filmes em cartaz na cidade. Eu o admirava silenciosamente. Gostava de ver a sua autonomia, a sua liberdade de pensamento, a sua errância pela cidade-luz. Aprendi a conhecer um intelectual, homem livre, com suas ideias e paixões. Não preciso dizer mais. Este livro mostra o quanto todas essas minhas observações são limitadas para descrever ou qualificar o que Cláudio Paiva representa como pensador do contemporânea. Sem perda de tempo, comecem a ler. É tudo.

JUREMIR MACHADO DA SILVA: Coordenador do Programa do Pós-graduaçao em Comunicação da PUCRS. Porto Alegre, 13 de setembro de 2010.