terça-feira, 13 de julho de 2010
A prosa caótica da cibercultura
“A linguagem é a morada do ser”. Essa é uma frase de Heidegger, filósofo alemão, crítico da técnica (e da tecnologia), vista como uma forma de limitação do ser humano. Idiossincrasias dos pensadores, à parte, observamos que na ambiência tecnológica gerada pelos meios de comunicação, pelas novas mídias, disseminam-se novas gírias, jargões, vocabulários, linguagem que traduzem as sensações, percepções e sacadas dos indivíduos. Foi assim na era do rádio, no século do cinema, no tempo forte da televisão e hoje, não poderia ser diferente com a internet e as hipermídias que infestam o cotidiano. Em meio aos jogos de linguagem do ciberespaço novas expressões ganham forma excitando a imaginação criadora e vigilante dos contemporâneos. Fio terra, placa mãe, pós-humano, tempo real, segunda vida, terceira dimensão, universo on line etc são vocábulos, noções e imagens conceituais que nos remetem a uma outra noção de natureza, levando-nos a pensar como “o artificial se tornou o natural”, em nossos dias. Basta passear pelos shopping-centers, aeroportos, hipermercados, megastores, cibercafés para experimentar essa sensação de que habitamos um outro mundo. Mas convém observar que as linguagens e experiências mais recentes são impregnadas pelas imagens arquetípicas, ancestrais, remotas que orientam os homens e as mulheres desde os tempos primordiais. Essa é uma regra da antropologia que não podemos esquecer. Então para se entender o novo, convém prestar atenção para a potência das imagens antigas, tradicionais, assim como para entender o passado, é preciso se orientar pelas lentes do novo, como dizia o filósofo alemão Walter Benjamin, estudando a literatura, as tecnologias do seu tempo e as formas culturais que lhe foram contemporâneas. Para além da tecnofobia e da tecnolatria, cumpre compreender que sempre o que está em jogo são os seres humanos com tudo o que eles representam de pureza e perigo. Hoje, quando o mundo inteiro se volta para as preocupações ambientalistas, ecológicas – em suas dimensões locais e globais – entendemos que os (pós)humanos começam a despertar para a necessidade de equilibrar as suas relações com o mundo social e cósmico, o mundo natural e com a sensibilidade tecnológica que nos rodeia. Tudo isso passa pelo crivo da linguagem, pois esta experiência fundamental é o que nos permite a autonomia e liberdade necessária para nos situarmos face à outridade do mundo. Para além das profecias apocalípticas do cinema de ficção, no filme “2012”, fiat lux, em meio ao caos e ao excesso da linguagem no ciberespaço, uma nova ordem se configura; algo está acontecendo: os (pós)humanos estão despertando para a importância do pulsar equilibrado do planeta.
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Publicado em Correio da Paraíba, 17.08.09
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