terça-feira, 13 de julho de 2010
Matei o tédio e fui ao cinema
Já ofereci muita resistência aos cinemas dos shopping por questões religiosas: antigamente eu ia à igreja do Bom Pastor e do Orfanato Dom Ulrico, em Jaguaribe, depois me libertei e fugi ao cinema, que devo confessar - salvou a minha cabeça! Então, o cinema funciona para mim como templo, terapia, lugar de fruição, catarse, doce ilusão de felicidade. Para minha surpresa, neste ano de 2006, o Oscar veio trazendo um rico repertório de filmes sensíveis e inteligentes. Ético, político, polêmico o evento desta vez se caracteriza pela conexão feliz da arte tecnológica, estética transcendental e liberação global das ideologias minoritárias. Começando pelo filme O segredo de Brokeback Mountain (Ang Lee), estranhamente denominado na mídia burra e homofóbica como um faroeste gay, trata da dificuldade das relações humanas e me parece uma exaltação das forças dionisíacas da natureza (não é à toa que o seu slogan seja “o amor é uma força da natureza”); então, foi merecido o prêmio de melhor direção na festa do Oscar. Em seguida, o magnífício Crash, no limite (Paul Haggis) de fato foi a grande surpresa, tratando do problema da incomunicabilidade numa cidade gelada e fascista como Los Angeles. Em cena se focalizam as questões da intolerância e do racismo com as interpretações irrepreensíveis de Sandra Bullock, Don Cheadle, Thandie Newton, Ryan Phillippe, Matt Dillon e Brendan Fraser. Cumpre registrar a atuação brilhante de Philip Seymour Hoffman, em Capote (Bennet Miller), incorporando o cínico e genial jornalista americanoTruman Capote. Colírio para os olhos o belo “documentário” (?) francês A marcha dos pingüins (Luc Jacquet), alertando o mundo para uma espécie em vias de extinção, em seu longo trajeto migratório do seguro oceano até às terras gélidas da Antártida. Que pena que o impactante filme Munique (Steven Spielberg) tenha ficado tão pouco em cartaz: em tempos cruéis da paz armada e dos terrorismos em meio à guerra dos fundamentalismos de mercado (regido pelo nefasto Bush Jr) e religioso (orquestrado pelos muçulmanos radicais), o filme alerta para o perigo da destruição total da raça humana. É possível entender como o movimento punk tenha nascido numa cultura tão troncha e excludente como aquela da aristocracia inglesa, logo, palmas para a nova adaptação brilhante no romance de Jane Austen, no filme Orgulho e Preconceito (Joe Wright), desnudando com ironia e sensibilidade a crueza dos racismos anglo-saxônicos (tão longe e tão perto). Bastante interessante de ver como se constroem as tramas do denuncismo, da paranóia e do medo de tudo aquilo que parece novo e ameaçador no filme Boa Noite e Boa Sorte (George Clooney), mostrando ainda como é necessário ter coragem nos tempos sombrios, uma representação fantástica dos tristes anos do macartismo, tão parecidos com as tramas políticas atuais do conservadorismo querendo desestabilizar o princípio democrático no Brasil. Entretanto nada parece se comparar ao extraordinário filme brasileiro Cinema, Aspirinas e Urubus (Marcelo Gomes), mostrando a ternura e afetividade no encontro de dois seres humanos de mundos diferentes, com a interpretação fabulosa de João Miguel e com destaque para a fotografia iluminada de Mauro Pinheiro. E, mais do que nunca é preciso astúcia para aprender a entrar e sair da melancolia dos shopping centers, então vale à pena ir ao Centro de Ciências Humanas Letras e Artes - UFPB - na quarta 29, quinta 30 e sexta feira 31 deste mês para assistir no auditório 412 aos filmes Menino de Engenho (Walter Lima Junior), O Menino e a Bagaceira (Lúcio Vilar) e o imperdível Abril Despedaçado (Walter Salles), além dos filmes experimentais realizados pelos novos comunicólogos egressos do DECOM-UFPB. Logo, vale à pena matar o tédio e ir ao cinema, driblando a rotina repetida do cotidiano e experimentando novas sensações para passar os dias de chuva.
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