Eu me lembro que a Professora Josefina Ayres, no Colégio X, nos anos 70, alertava-nos para o pecado do olho grande, como metáfora da cobiça, inveja, ambição desmesurada. Hoje, nos tempos da política midiatizada, dos mensalões e da tela total, observo a televisão como um tipo de controle e monitoramento que a sociedade dispõe com relação à vida pública dos políticos profissionais. De repente, quando assistimos às denúncias do mensalões, dólares nas cuecas, dízimos mercantilizados, tudo leva a crer que vivenciamos uma experiência de “transparência total”. Mas ao mesmo tempo, convém perceber que a mídia tem o poder de ver e de mandar ver: a tv enquadra, recorta, agenda e mo(n)stra o “mundo real” da maneira como bem pretende. Então, o olho grande da mídia, a serviço dos poderosos, pode também manipular a realidade dos fatos. Mas se a mídia é poderosa, ela não pode tudo. Ela tem as condições técnicas e ideológicas de ocultar e de revelar as virtudes e os vícios dos políticos; porém, na época das tecnologias audiovisuais, das mídias portáteis, digitais e interativas, cada cidadão, dono do seu próprio “olhinho grande”, munido de suas microcâmeras, lap top, canetas e microfones espiãos, tem a chance de realizar a sua própria mediação. Cada um de nós hoje – com ou sem diploma de jornalista – detém o poder de registrar e divulgar as evidências gritantes da vida política nacional. Logo, a pergunta que não quer calar é: “quem manipula quem?” na Idade Mídia, na era da visibilidade total.
De norte a sul do país, em níveis locais e globais, todas as coisas políticas são vistas pelo olho grande da televisão: do coronelismo eletrônico (do mal), até as estratégias inteligentes dos blogueiros (do bem), nada parece escapar ao olhar dos internautas, e-leitores e cidadãos. Mas o grande risco gerado pelos escândalos políticos midiatizados é a possibilidade de se disseminar o desinteresse geral pela experiência política. E a primeira regra que se aprende nas aulas de Comunicação e Cultura Política é que “Ou voce cuida da política ou a política cuida de você”. Assim, relembro Voltaire, que falava na democracia como a “felicidade do jardim público”, e hoje, na era da “democracia virtual”, precisamos cultivar melhor o nosso jardim; fico pensando.
Correio da Paraíba, 07.12.09
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