O que hoje chamamos de mídia nasceu como jornalismo, após a invenção de Gutemberg (sec. XV), e a sua força de propagação é tamanha que foi peça chave no âmbito das revoluções marítimas e comerciais (sec. XVI e XVII), revolução francesa (sec. XVIII), revolução industrial (sec. XIX) e a revolução russa (sec.XX). Hoje, mídia é TV e é parte de um processo ligado às experiências de veiculação da informação, divulgação de conhecimento e aproximação das diferenças sociais. A mídia está atrelada às forças econômicas e políticas. E, sendo a TV uma arma forte, os “donos (gestores) da comunicação”, agendam os acontecimentos que podem se tornar notícias, decidindo o que se pode ver e como se pode ver. Logo, tudo aquilo que se difunde na TV está subordinado à logica econômica e política, e isto envolve – simultaneamente - as imagens sublimes e grotescas que contemplamos diariamente nos telejornais.
O telejornal é movido pela vontade de neutralidade, mas também é movido pela vontade de poder; ou seja, para ganhar mais, poder mostrar mais e vencer a concorrência, faz uso do sensacionalismo, isto é, sem tempo para pensar, penetra nas entranhas dos “fatos”, das pessoas e dos cadáveres para ganhar a audiência. Faz isso não por maldade, mas porque na mídia tempo é dinheiro e a TV não tem tempo a perder. Não tem tempo para pensar, nem fazer pensar: essa é a parte burra (e emburrecedora) da TV.
Desde o tempo de ouro do jornalismo impresso, o noticiário é movido pela lógica do “furo”, que faz a glória dos jornalistas. E hoje, na era da dromologia, tempo da aceleração e da velocidade, a mídia precisa capturar o acontecimento em tempo real, mas sabe-se que a pressa é inimiga da perfeição. O 11 de setembro, a Guerra do Golfo, os desastres aéreos, as Tsunamis e mais recentemente o terremoto no Haiti são calamidades que servem de matéria prima para o furo jornalístico, espetacularização da notícia e sensacionalismo da TV. Todavia, cada telespectador pode contemplar as imagens de uma outra maneira, dependendo da maneira como faz uso do seu tempo. Há o tempo cronológico (derivado do Kronos devorador), mas existe o tempo do Kairós (tempo de plantar e colher, tempo da pulsação, tempo da vida natural). Em meio às calamidades, como no Haiti, atentos às imagens-tempo de solidariedade, compaixão e generosidade, podemos superar as imagens de horror, e compreender a parte doce e nobre dos afetos humanos, a parte de beleza da televisão.
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