terça-feira, 24 de agosto de 2010
O quarto reino da n@tureza
No princípio era o verbo, o mundo já era virtual. De Platão à Nietzsche o grande dilema do pensamento acerca do homem diante do Absoluto e do Nada. Quer dizer, desde o início os homens inteligentes permaneceram em busca dos critérios para avaliar o que é verdadeiro e falso. Hoje, na era da aceleração e da velocidade, na radicalidade do mundo das aparências, isso ficou mais difícil de se resolver. Na era do Avatar, do cinema em terceira dimensão, o artificial se impõe como o natural; mas a coisa não pára na sala escura do cinema. Os shopping centers, hipermercados, salas dos aeroportos nos parecem cenários das cidades invisíveis. São, na realidade, não-lugares por onde passamos com frequência, por onde vivenciamos solitários – cotidianamente - as nossas pequenas verdades privadas. Na era do virtual tudo se tornou transitório, volátil, passageiro: tudo ali se demancha no ar. Mas essa é a nossa condição pós-moderna, ou se preferirmos, da nossa modernidade líquida, para o pior e para o melhor: é preciso enfrentá-la, fazer bom uso dela. O desafio que se coloca é encontrar as estratégias adequadas para saber entrar e sair da irrealidade cotidiana que nos rodeia. O primeiro passo tem que ocorrer no domínio da velocidade: voce precisa estabelecer uma relação de controle sobre a aceleração e a velocidade que atravessa o seu cotidiano. O cronos simboliza o tempo devorador: do calendário, do relógio de ponto, do dia de pagamento, da máquina de calcular; é aquele que devora os seus filhos. Logo, é preciso eleger o Kairós como o seu tempo, tempo de plantar e de colher, o tempo da pulsação, sístole e diástole, inspiração e expiração como medida para uma atuação diante do mundo, dos seres e das coisas. É por aí que se pode exercer uma vontade superior e poderosa, como dizia Nietzsche, defendendo o Super-Homem. No passado recente, o mundo era regido por um princípio monoteísta, em que a regra era: ou isto ou aquilo, o privado ou público, o natural e o artificial, o masculino ou o feminino: “a espada era a lei, separando – para o pior – as coisas e seres do mundo. Hoje, o grande insight – filosófica, ecológica, política - vem de Afrodite, à mitologia da concha, o ovo cósmico, reunindo os extremos, coincidência dos opostos, reunião dos contrários. Convém reconhecer as nossas extensões de animal, vegetal, mineral e digital. Vivenciar cotidianamente esta conjunção é estratégico para a sobrevivência na nossa era das convergências radicais.
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