segunda-feira, 15 de março de 2010

Seu nome: internet, codinome: solidão

Na ambiência anárquica do ciberespaço a nova febre mundial é o chatroullete.com . Como a palavra mesmo diz, literalmente é um site de relacionamento (com audio e vídeo) tipo roleta: você não precisa clicar: as imagens, caras e bocas do mundo entram e saem da telinha do seu monitor. Fazendo analogia com a televisão, é como se a MTV (aquela que zapeia sozinha) tivesse se instalado na internet. Síndrome da incomunicabilidade total: ninguém fala com ninguém. As pessoas aparecem e desaparecem num piscar de olhos: parece coisa daquelas viagens turísticas: conheça 45 cidades em 24 horas: quando você olha através da janela do bus, a cidade já desapareceu. Signo do voyeurismo radical: a ilusão de se apossar de um outro alguém através de uma mirada obscena. Aliás, diz um estudo: a percentagem demográfica no site: 20 % garotas, 70% rapazes, 10% “tarados”. Seu nome: internet, sobrenome: solidão. Dromologia, dromoscopia: aceleração e velocidade é a lei na era globalizada. Um êxatase para os curiosos e tecnolatras; um terror para os moralistas de plantão. “Mas eu não lhe prometi um mar de rosas”. Tudo aquilo que começou com o MIRC (um dos primeiros sites “inocentes” de bate-papo), passando pelo MSN (conversações on line, em tempo real), chegou aos extremos com o Chatroullete (a “roleta dos gatos”, sic). E, como de hábito... o resultado vai depender da maneira como voce vai usar. Pode se divertir, espantar o tédio, dar boas gargalhadas e – de repente – até fazer “amigos”, surfando virtualmente pelo mundo afora. Artes do pós-humano: pequenos luxos e misérias da alma atômica, e no fim das contas, um laboratório formidável para se entender um mundo em que o espaço da discreção, da intimidade, da privacidade tornou-se indiscreção total, exposição plena, publicidade geral. No tempo das tribos, na idade mídia, quando o mundo lá fora se tornou excessivamente perigoso, a horda se interiorizou, mas sem nada do lado de dentro, a fome do outro arremessa os humanos para o outro lado do vidro: tudo isso – para o melhor e para o pior – faz parte das mitologias e extravagâncias da nossa modernidade líquida.

3 comentários:

  1. Fabulosoo o texto Claudinhooo!!!!!
    Amei !!!
    estamos mesmo na era pós humano, e as relações a cada dia que passa se restringem a distância do mundo virtual!!

    ResponderExcluir
  2. Leio seu texto sem pausas, do jeito que foi escrito. É um poeta.

    ResponderExcluir
  3. Adorei o texto! Mais uma vez a internet saciando os nosso afetos...

    ResponderExcluir