O livro conta a história de uma menina chamada Alice que cai numa toca de coelho sendo transportada para um lugar fantástico povoado por criaturas peculiares. Não é uma estória para crianças nem para adultos, muito pelo contrário. Nasce como um romance inglês, de Lewis Carroll, no século XIX, fazendo uma sátira corrosiva da Inglaterra pós-vitoriana e da rainha, é claro. E se irradia pelo mundo inteiro desafiando a imaginação criadora. Pelas lentes de Walt Disney, ganhou cores, sons, animações fantásticas deslumbrando o público infanto-juvenil do planeta. Mas quase nada se compara com a grande revolução das artes visuais como os filmes em 3D. Imersão pura, envolvimento total. Arrebatamento dos espíritos por meio de tecnologias sensíveis e arrojadas. Um absurdo necessário e fundamental, numa era tão previsível e conformista como a nossa.
Tem uma dimensão de Alice ligada às coisas encantadas e maravilhosas que vai ganhar uma paulada, num filme ácido chamado “Alice não mora mais aqui”; algo que se pode entender como “Amélia não era mulher de verdade”. Estranhamento absoluto, como requer a grande arte. Mas essa é uma outra estória. Por que depois de Tim Burton (autor de O estranho mundo de Jack, Eduardo Mãos de Tesoura e Noiva Cadáver, entre outros), Alice nunca mais será a mesma. Não é mais menina, é moça feita, e ridiculariza pra valer a aristocracia careta londrina: xou de bola!
O elenco é supimpa! Com a novata australiana Mia Wasikowska, Helena Bonham Carter (como a Rainha de Copas), Anne Hathaway (como a Rainha Branca), mas Quem rouba a cena? John Deep, como o chapeleiro maluco, é claro. Impagável com a cara hilariante de Madona e dançando como Michael Jackson.
Contudo, para além das ideologias e mitologias da cultura de massa, Alice tem que ser visto em terceira dimensão. Também porque depois de Avatar, nada (no cinema) será como antes. É por aí que a gente fica grande e fica pequeno, e se permite contemplar o mundo por outro ângulo. Se Giotto transformou a história da pintura, inventando a perspectiva, o cinema em 3D inaugura uma nova maneira de ser assistir aos filmes: volume, textura, altura, profundidade. Vale a pena ver Alice e o seu séquito de personagens fabulosos, como o gato risonho, a lagarta fumante, os gêmeos gordinhos e o coelho apressado: uma viagem básica para muito longe deste insensato mundo.